Sem muito o que falar, apenas a vontade me aperta a garganta e me faz gritar. Tenho vontade de dizer que não aguento mais, porque não aguento. Mas se eu não aguentar, perco. E não posso perder essa. Não, não posso.
Perder seria enfraquecer, deixar acontecer. Isso não pode acontecer.
Junto todas minhas forças e continuo, aqui. Não saio.
Os Estados Unidos em crise financeira, o mundo sofrendo o abalo disso, e na minha cidade os bancos em greve há quase um mês.
Conveniente?
Aquela conversa de travesseiro. "Quem é meu quindizinho?". "Sou eu. Quem é a minha roim-roim-roim?". "Sou eu", e ele inventou de dizer que jamais se separariam e que ele seria, para ela, como aquele nervinho da carne que fica preso entre os dentes, e ela disse "Credo, Oswaldo, que mau gosto!", e saiu da cama e depois nunca mais. Acabou por metáfoea errada.
(O Melhor das Comédias da Vida Privada, Luis Fernando Veríssimo)
*Artigo do jornalista Xico Sá, extraído do Jornal Diário do Nordeste do dia 11.10.2008.*
Modos de macho
As mulheres querem que os homens adivinhem, sintam, farejem os seus desejos e vontades e antecipem essas realizações. Bem-aventurados os que descobrem que elas estão a fim de uma viagem à montanha e levam-nas à montanha.
Velhíssima pergunta, por suposto. A pergunta é das antigas, mas as possíveis especulações sempre serão novíssimas. Nosso eterno desafio. Paz na terra aos homens de boa vontade que tentam decifrá-la. É o que tentaremos agora. E sempre.
As mulheres querem que os homens adivinhem, sintam, farejem, os seus desejos e vontades e antecipem essas realizações. Bem-aventurados os que descobrem que elas estão a fim de uma viagem à montanha e levam-nas à montanha; bem-aventurados os que sabem que elas não agüentam mais aquele velho boteco e levem-nas a um japonês decente; bem-aventurados os que sabem que elas gostam de novidades e detestam quando os garçons nos dizem “o de sempre, amigo?”.
As nossas mulheres querem que tenhamos olhos só para elas. No que, aliás, foram contempladas biblicamente pelo décimo mandamento das tábuas da lei entregues por Deus a Moisés: não cobiçarás a mulher do próximo blá blá blá.
As mulheres querem que alternemos momentos de homens sensíveis e momentos de lenhadores. E nós, na gana da obediência e do agrado, somos lenhadores quando nos queriam sensíveis e vice-versa, ê comédia de erros, velho camarada Shakespeare. Sempre assim, tipo onde queres Leblon sou Pernambuco...onde queres romance, rock’n roll...
As mulheres querem que reparemos no novo corte de cabelo, mesmo que a alteração tenha sido mínima, tipo só uma aparada nas pontas. O radar capilar tem que acender a luzinha, sem falha, na hora, se liga! Se for luzes, entonces, cruzes!
As mulheres não toleram que viremos de lado e já nos braços de Morpheu depois da saudável prática do sexo. As mulheres querem carinho e entusiasmo, embora saibam que o único animal que canta e se anima depois do gozo é o galo, esse tendo pernalta incorrigível, incomparável.
As mulheres querem...massagem. Muita massagem. Primeiro nas costas, depois nos pés e sempre no ego.
As mulheres querem...molhinhos agridoces. Como elas se lambuzam lindamente!
As mulheres querem...flores e presentes. Não caia, jovem mancebo, nesse conto de que mulher gosta é de dinheiro. Se assim o fosse, amigo, os pobres de tudo não teriam nenhuma, nunca, jamais uma fêmea. Repare que até debaixo do viaduto está lá a brava mulher na companhia do desalmado. Ela e o cachorrinho magro, só o couro, o osso e a fidelidade.
O que vale é a devoção, amigo. Mesmo que você não tenha um dólar furado, pobre de marre-marré, pode muito bem presenteá-la com uma bijuteria de R$1,99, desde que seja com a devoção e a dramaturgia de uma jóia Tiffany’s – vide Bonequinha de Luxo, o filme.
As mulheres só querem ser felizes. Seja no luxo, seja na simplicidade.
Modos de fêmea
Dito isto, digo mais, eu não sei é de nada ainda sobre estes maravilhosos seres. Quem saberá? Ninguém. Ninguém mesmo, graças à Deus. Mas melhor tentar entendê-las do que se fingir de macho e leso para toda a vida. Senão o pior pode acontecer: seremos alertados apenas por um chifre ou algo pontiagudo que nos coça a testa e o juízo.
O que custa, então, sermos os novos escravos destes seres moderníssimos que também não sabem de nada?
O Anjo Mais Velho O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli
"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"
Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar
Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto... depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar